Virou
moda. Ultimamente, em todo final e início de ano, são publicados
artigos procurando contradizer a historicidade da pessoa de Jesus
Cristo ou a inerrância e inspiração divina das Sagradas Escrituras
(a Bíblia Sagrada). Não passam de inúteis tentativas de negação,
na medida em que os argumentos neles utilizados sempre são os que há
muito tempo foram sepultados com pá de cal. Creio que, com essas
publicações, intenta-se contrapontear a influência cultural da
celebração do Nascimento de Jesus Cristo (o Natal), visando a
rebaixar essa festividade ao nível folclórico.
Os
autores desses artigos costumam pousar como céticos ou, então,
devotos da razão. Gostam de esnobar que somente creem naquilo que
pode ser demonstrado empiricamente. Pena que não aplicam isto a
tudo, apenas àquilo que lhes convém, sob o manto de uma visão de
mundo própria, geralmente materialista.
Prova
disso é que não são publicados artigos questionando a
historicidade dos filósofos gregos Sócrates, Aristóteles e Platão.
É sabido que a quantidade de documentos antigos que fazem menção a
esses filósofos é muito inferior - mais muito inferior mesmo – em
relação aos que tratam da pessoa e dos ensinamentos de Jesus
Cristo. No entanto, estranhamente, ninguém ousa duvidar da realidade
histórica desses filósofos.
Pois
é, se não há motivos para crer na realidade histórica da pessoa
de Jesus Cristo, por que haveria de se aceitar que existiram os
filósofos gregos, uma vez que os antigos documentos escritos a
respeito do Filho de Deus, de sua doutrina e de seus discípulos são
em um número muito superior aos que fazem menção aos pensadores da
Grécia Antiga? Convém acusar que, sobre o Senhor Jesus e seus discípulos, existem
menções em documentos oficiais do Império Romano, isto é,
documentos que não foram produzidos por cristãos. Ou seja, a
existência histórica de Jesus Cristo é fato incontestável!
O
que pretendo deixar claro aqui é que as pessoas que duvidam da
historicidade de Jesus Cristo e, inclusive, dos fatos narrados nas
Escrituras Sagradas, e bem assim da inerrância e da inspiração
divina destas, são pessoas que simplesmente decidiram crer em outras
coisas, embora não possam demonstrá-las empiricamente. Quer uma
demonstração mais acurada disso? Então leia o ensaio de Luciano
Ayan intitulado 'Os fazedores e os checadores
ou a origem
da rotina “cético universal”, acerca do qual peço
vênia para republicá-lo abaixo (texto em vermelho). Creio que depois da leitura desse
artigo, você há de concordar comigo que: os que se dizem serem
céticos, não o são de fato; muito pelo contrário, são tão
crentes quanto os mais estúpidos supersticiosos.
'Os fazedores e os checadores
ou a origem
da rotina “cético universal”
Luciano
Ayan
Imagine
uma hipotética sociedade bizarra, algo como uma tribo perdida, no
estilo dos smurfs, só que habitada por pessoas.
Certo
dia, um ancião da tribo resolve atribuir dois rótulos às pessoas.
São eles: fazedores ou checadores. Isso significa que alguém só
poderia ser chamado de fazedor ou então de checador, sem meio termo.
Logo,
se alguém produz ferramentas, este é um fazedor, e portanto é isso
que ele deve fazer. Se alguém tem uma plantação, este é também
um fazedor. Não deve ser difícil notar que quase não existem
checadores, pois quase todo mundo tem que ser reconhecido por fazer
algo.
Entretanto,
cinco pessoas são eleitas como checadores. A ele cabe criticar o que
todo e qualquer fazedor realiza, independente do que for. Já aos
fazedores, só cabe a ação pura e simplesmente, sem julgamento
sobre o que qualquer outro fizer.
Não
demora para que esses cinco checadores adquiram extremo poder sobre
todos os demais, já que se eles só checam, e não fazem, estão
portanto isentos de serem julgados, mas ao mesmo tempo tem o poder de
julgarem todos. Como são checadores, logo os cinco fazem uma aliança
para manter o poder absoluto. Já os fazedores não tem o poder de
questionar a autoridade dos checadores, pois eles só “fazem”…
Certo
dia, um carpinteiro, que costumava ser líder de grupos, resolveu
questionar os checadores, no que ouviu: “Você é um carpinteiro, e
produz artefatos de madeira. Sendo assim, você faz. Se faz, não
checa. Logo, não pode nos questionar”. E dia após dia, o poder
dos checadores ia se ampliando, indefinitivamente…
Se
você notou algo de errado na história acima, está correto. Só que
se você acredita que tal situação não aconteceria em um mundo
real, está errado. Essa situação tem ocorrido desde o Iluminismo,
através de uma rotina chamada cético
universal,
que justamente foi inventada por humanistas e utilizada até hoje.
Substitua
a expressão fazedor por crente, e a expressão checador por cético,
que você terá a exata dimensão do que ocorre até hoje, e esse foi
um dos principais motivadores para a criação deste blog.
Na
verdade, muitos humanistas seculares ou anti-religiosos de qualquer
tipo resolveram utilizar o rótulo cético, ao invés de “cético
em relação ao paranormal” ou “cético em relação a Deus” (o
que seria, na mais completa acepção da palavra, um ateu). Ao
contrário, utilizaram a expressão “cético”.
O
truque, similar ao que ocorre na aldeia hipotética, é aquilo que em
neurolinguística chamados verbos
não especificados.
Quando se usa este truque, o advérbio é omitido, e daí por diante
não é possíver expressar a maneira como uma ação é feita.
Assim, a expressão “ela faz o jantar” é substituída por “ela
faz”, ou “ele realizou uma ação de vendas” é substituída
por “ele realizou”. Sem a especificação relacionada ao verbo,
fica fácil de executar o truque do cético
universal.
Se
tudo isso parece absurdo, veja o exemplo de vários cristãos que
caíram no truque. O livro Answers
to Tough Questions Skeptics Ask About the Christian Faith,
de Josh D. McDowell e Don Stewart simplesmente é uma perfeita queda
na arapuca humanista secular. Os autores não dizem responder aos
ateus (que seriam os céticos quanto a existência de Deus), mas sim
aos “céticos”. Alex McFarland também se deixa enganar ao
escrever 10
Answers for Skeptics.
Esses são apenas alguns dos exemplos em que cristãos aceitam que
seus oponentes não são humanistas, ateus, mas simplesmente céticos.
Pior ainda é quando eles se rotulam como “crentes”, ao invés de
“crentes em Deus”.
Um
amigo certa vez me disse: “mas Luciano, isso é apenas uma questão
de semântica”. Nem de longe. É um jogo psicológico, no qual
alguém (o mais ingênuo) aceita a postura de que “acredita”,
portanto tem que dar satisfação a quem questiona, enquanto seu
oponente “questiona”, mas não tem que dar satisfação nenhuma.
Para
entender a conseqüência deste problema, vamos imaginar uma situação
corporativa, onde um sujeito alcança um cargo de Gerente de
Atendimento de contas. Aos poucos, ele vai usando a politicagem para
definir sua função como ombudsman do cliente, e portanto sua função
é criticar a Gerencia Operacional o tempo todo. Já vi casos em que
Gerentes de Atendimento somente faziam esse trabalho, mas conseguiam
maquiar suas ações para fugirem de serem julgados, pois faziam o
papel de “ombudsman”. Ora, se um ombudsman age em defesa
imparcial do cliente, naturalmente então ele não precisa ser
julgado.
O
fato é que um Gerente de Atendimento tem que ser julgado pelo seu
trabalho, assim como todos os outros Gerentes, pois ele precisa
apresentar resultados. Por exemplo, ele deve ser julgado pelo
alinhamento dele com o cliente, pelo timing de seus relatórios, pela
qualidade de sua comunicação com os gerentes seniores, e daí por
diante.
Caso
o Gerente de Atendimento finja que ele é apenas um “checador”, é
claramente uma situação que irá resultar em conseqüências
adversas no futuro, pois alguém adquire o poder de não ser
questionado, ao passo que os outros Gerentes, principalmente aqueles
que se reportam ao Gerente de Atendimento em questão, passarão por
maus lençóis, pois estarão diante de alguém que não é julgado
pelos seus atos.
Não
demorou para os humanistas seculares descobrirem este truque, que foi
facilmente implementado pelo uso da repetição. O sujeito diz que “é
cético” tantas vezes que depois de um tempo os outros começam
realmente a chamá-lo de cético. No caso, esta repetição ocorre
simplesmente pelo fato de que o uso do termo “cético” irá
causar a ele um benefício, no caso o de não ser questionado.
Enquanto ele passa a ser reconhecido como “cético” (e portanto,
aquele que questiona, não que é questionado), ele passará a enfiar
goela abaixo dos outros todo tipo de crença absurda.
Veja
por exemplo a CSICOP, entidade da qual participam vários
esquerdistas. O objetivo deles é questionar alegações paranormais
ou sobrenaturais, e só. Estão entre os tópicos questionados:
quiromancia, homeopatia, existência de Deus, etc. Entretanto,
observe que a organização não se refere a eles como
“questionadores do sobrenatural”, mas simplesmente
“questionadores”. Novamente, assim como vários religiosos caíram
na arapuca e aceitaram ser chamados de “crédulos”, os membros da
CSICOP referem-se a si próprios como “céticos”.
Em
um dos casos mais gritantes, Paul Kurtz é chamado, pelos seus
aliados, de “representante do ceticismo”. Entretanto, ele
escreveu o Manifesto Humanista, na qual alegações absurdas são
destiladas aos borbotões. Ou seja, ele faz a fachada de cético
universal para, quando os outros deixaram de prestar atenção em
suas crenças, começar a alegar o máximo que conseguir.
Antes
de tudo, quero já ir avisando. Não estou interessado em defender o
sobrenatural, e não possuo crenças no sobrenatural. Por ser
agnóstico (e ateu fraco), não tenho procuração para defender a
existência de Deus. Entretanto, meu foco aqui é mostrar que o
ceticismo não é “só para a existência de Deus e para o
sobrenatural”, e sim para qualquer coisa. O fato de eu estar
mostrando que vários religiosos tem caído em um truque humanista
não significa que eu esteja defendendo a crença religiosa. Muito
pelo contrário, pois o método que apresento aqui serve tanto para
questionar a crença religiosa como a crença esquerdista.
Dito
isso, vejamos um exemplo de como se usa o ceticismo para desmascarar
alguém que use o truque do cético universal, mostrando como isso
ocorreria tanto no âmbito corporativo como também sendo utilizado
por um neo ateu (no caso, o neu ateu é o anti-religioso raivoso, da
linhagem Richard Dawkins).
Primeiramente,
imagine a Empresa X, que presta serviços de Gestão do Conhecimento
para várias empresas de grande porte, ele elas a RKTEL (empresa
fictícia). A conta da RKTEL está sob crise e vários líderes de
atividades são considerados incapazes. O Gerente de Relacionamento,
Maciel, que deveria defender a percepção do cliente começa a dizer
que não há problemas na gestão das atividades. O Gerente
Operacional, Getúlio, é colocado sob suspeita de incapacidade na
gestão, mas estranhamente Maciel não o critica.
Eis
que começa o questionamento sobre Maciel:
CONSULTOR:
Maciel, estamos suspeitando de que há realmente incapacidade na
equipe e isso não tem sido monitorado pelo Gerente Operacional.
MACIEL:
Isso não existe. A equipe é totalmente capaz.
CONSULTOR:
Podemos, então, considerar que a equipe é capaz? Interessante.
Você estende esse julgamento para o líder de produção?
MACIEL:
Completamente.
CONSULTOR:
Soubemos que Getúlio definiu Hugo como o líder de produção
ideal. Você endossa esse ponto de vista?
MACIEL:
Sim, ele é excelente. Tem muita experiência.
CONSULTOR:
Você sabe que para alguém se tornar líder aqui requer 6 anos de
experiência na função e atuação em 3 diferentes contas,
correto?
MACIEL:
Concordo.
CONSULTOR:
Ainda assim, você considera Hugo qualificado?
MACIEL:
Ele é muito bom. Sim, o considero qualificado.
CONSULTOR:
Por quantas contas o Hugo andou? E qual o tempo de experiência
dele?
MACIEL:
Eu não sei.
CONSULTOR:
Mas você acabou de defini-lo como qualificado e aceitou os
critérios para qualificação. Ok, vamos mudar de assunto. Pensamos
que o Getúlio iria assumir a gestão do projeto de melhorias. Por
que ele não fará?
MACIEL:
Por que ele não tem tempo.
CONSULTOR:
Como sabemos que o tempo dele está escasso?
MACIEL:
Ele tem muita coisa para fazer.
CONSULTOR:
Você já me disse isso antes. Quais são as atividades?
MACIEL:
Ele fica o dia inteiro resolvendo problemas.
CONSULTOR:
Quantos problemas ele resolveu essa semana? E o tempo médio
utilizado?
MACIEL:
Eu não sei quanto tempo, mas que ficou resolvendo problemas.
CONSULTOR:
Perfeito. Temos aqui dois endossos: (1) Alegação de que Hugo é
qualificado e atende os requisitos, (2) Alegação de que Getúlio
não tem tempo de assumir o projeto. Posso levar as duas adiante?
MACIEL:
Não, veja bem…
CONSULTOR:
Aha…
Observem
que duas alegações não comprovadas eram utilizadas por Maciel e
serviam POLITICAMENTE aos seus objetivos, que era estabelecer uma
aliança com Getúlio, mesmo que a conta da empresa estivesse em
risco. Para neutralizar o jogo político, o consultor optou por
apelar ao ceticismo.
Agora,
transferindo a questão para como um humanista usaria a tentativa de
ficar na posição de cético universal, vejamos como poderia ser um
diálogo em que um cristão usasse o ceticismo em relação a ele.
NEO
ATEU: O que me diferencia é o fato de que sou cético, enquanto
você é crédulo. Portanto, eu tenho reflexão, e você não.
REFUTADOR:
Mas como você demonstra essa taxa maior de reflexão? Como ela é
mensurada? E como comprovamos a mensuração?
NEO
ATEU: O fato é que refleti mais.
REFUTADOR:
Você já me disse isso antes. Mas ainda não demonstrou esse
aumento de taxa de reflexão. Vou dar um exemplo. Alguém diz que o
copo A está mais cheio que o copo B. Podemos medir o volume de água
e descobrir que no copo A existem 200 ml de água, enquanto que no
copo B existem 150 ml de água. Se ambos possuem a mesma capacidade,
a alegação está comprovada. Como você mede e comprova essa maior
“reflexão”?
NEO
ATEU: Eu tenho mais liberdade.
REFUTADOR:
Novamente temos uma alegação. Noto que você desistiu de seu
argumento de auto-venda anterior e tentou outro. Se duas pessoas
estão com correntes amarradas ao pescoço, e permitimos que ambas
corram até onde a corrente os deixar, podemos medir. Por exemplo, a
pessoa A pode correr 20 metros, enquanto que a pessoa B somente 3
metros. Logo, a pessoa A tem no mínimo 6 vezes mais liberdade de
ação que a pessoa B. Isso é um exemplo de comprovação de
liberdade. Como você comprova essa sua “maior liberdade” e como
você a demonstra?
NEO
ATEU: Eu tenho liberdade por que não preciso acreditar no
sobrenatural.
REFUTADOR:
Mas alguém poderia dizer que você perdeu a liberdade por não
poder acreditar no sobrenatural. Ainda ficou faltando você
demonstrar sua maior “liberdade”. Já são duas alegações não
comprovadas até agora.
NEO
ATEU: Mas como você quer que eu prove minha maior liberdade?
REFUTADOR:
O alegador é você. Achei que você tivesse preparado um Power
Point, com gráficos e estatísticas, e como confirmaríamos esses
números…
NEO
ATEU: Isso é ridículo.
REFUTADOR:
Mas pelo menos eu não aleguei algo para tentar me vender sem ter
provas para justificar essa venda.
NEO
ATEU: Mas eu sou o cético aqui.
REFUTADOR:
Não. Você é um ateu, que é cético em relação a existência de
Deus. E eu sou um não-ateu, portanto cético em relação ao
discurso ateu. Não tente usar truques de verbos não especificados
aqui…
No
exemplo acima, ficou claro como o uso do recurso cético universal
serviria para garantir que o neo ateu não fosse mais questionado.
Aqui vimos um exemplo no qual ele estava perdendo o debate, ao ser
questionado justamente pelo religioso, e tentou apelar para o
ceticismo universal.
Quando
começamos a pensar ceticamente, transformamos argumentos,
ideologias, propostas políticas e tudo o mais em alegações, e a
partir daí somos testadores dessas mesmas alegações. Fazemos os
alegadores suarem frio durante essas extensivas sessões de
questionamento? Possivelmente. Mas conseguimos reduzir muito risco,
seja organizacional ou social, somente com esta ação.
Fonte: http://lucianoayan.com/2012/04/08/os-fazedores-e-os-checadores-ou-a-origem-da-rotina-cetico-universal/